18 de novembro de 2008

Estudo apresenta reuso planejado do esgoto na agricultura

A busca por alternativas de baixo impacto ambiental para problemas cotidianos vem se tornando uma atitude freqüente na sociedade. A coleta seletiva do lixo, a reciclagem e o reaproveitamento de embalagens já são meios comuns de preservar o meio ambiente. Até mesmo o esgoto doméstico e a forma como ele é tratado podem contribuir para a manutenção ecológica de resíduos nas cidades. Um estudo realizado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco desmistifica a tradicional visão do esgoto apenas como resíduo inutilizável e apresenta seu potencial de agente transformador, reutilizando-o na agricultura.
Os grandes centros urbanos apresentam dificuldades em despejar e tratar corretamente o esgoto doméstico, o que, muitas vezes, provoca o escoamento irregular, ameaçando o potencial hídrico das cidades e até a saúde da população. É a partir do tratamento do esgoto, portanto, que se torna possível extrair nutrientes que auxiliam as técnicas de fertilização do solo, garantindo, inclusive, a recuperação de rios contaminados.
A técnica chamada de reuso planejado, apesar de conhecida em outros países, só conquistou espaço para discussões no Brasil recentemente. Ela se apresenta como associação de medidas sanitárias e agronômicas através do reaproveitamento agrícola como fertilizante e por meio da limpeza e da conservação dos rios e lagos das cidades.
De acordo com o professor do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Vicente de Paula Silva – responsável pelo projeto piloto já implantado em Pesqueira –, estudos preliminares indicam a possibilidade de reciclagem do esgoto doméstico pelo reuso planejado em culturas de oleaginosas e em outros tipos de plantações.
Segundo o pesquisador, os estudos avaliam os vegetais irrigados com o esgoto tratado, tendo como objetivo a análise do óleo para a produção de biodiesel. “O trabalho da UFRPE, em parceria com o curso de Engenharia Química da UFPE, está em desenvolvimento. Salgueiro também fará parte do projeto como o primeiro município pernambucano a ter sistema de reaproveitamento de esgoto na agricultura”, conta.
O experimento da UFRPE Salgueiro, que ainda será implantado, trará como parceiros a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a Secretaria de Recursos Hídricos e o Instituto Agronômico de Pernambuco (Ipa).
A comunidade de Mutuca, em Pesqueira, conta com espaço de meio hectare – cerca de cinco mil metros quadrados –, que serve de laboratório para diagnosticar os benefícios e possíveis riscos percebidos na técnica. Para o professor, os resultados conquistados, até o momento, são satisfatórios . “A concentração de nutrientes importantes para o desenvolvimento de culturas – como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio – foram encontradas nas análises”, explica.
Vicente de Paula, alerta, no entanto, que não se pode estender o reuso do esgoto para todas as culturas. De acordo com ele, mesmo tratado, o esgoto apresenta microorganismos que não podem entrar em contato com alimentos de consumo in natura, como as hortaliças. “O sistema de irrigação deve ser localizado para minimizar o contato do líquido efluente – após tratamento – com os vegetais e o próprio ser humano”, pondera.
Apesar de comprovada a eficácia da técnica para o reaproveitamento da água, o Brasil aproveita parcialmente o potencial da técnica, já que pratica apenas o uso do efluente. “A escassez de água no mundo é uma realidade. É a partir de projetos como esse que devemos empreender novos métodos de aproveitamento dos nossos recursos naturais e saber usá-los com cautela”, salienta o pesquisador.
Mais informações: 3320.6261
Fonte: UFRPE

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