30 de setembro de 2020

Opinião

Irageu Fonsêca*
Não chores, temos muitas lágrimas ainda a verter. A insegurança alimentar cresce dia a dia, junto crescem as queimadas Brasil afora. O gado, a soja, o milho reciclam a monocultura quinhentista, a fome constrói um novo mapa da fome, que há pouco tinha sido incinerado, como resultado da luta de décadas contra a fome. Nela tombaram Josué de Castro, ao defini-la como escolha política; Betinho Marxista que associou o “comunista Jesus” à luta contra a fome. Natal sem fome; Dom Hélder Câmara, o bispo dos oprimidos, dos deserdados, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem água. Este, filho legítimo do “comunista Jesus”. O último deles teve a fome entranhada em seu estômago, arrancando-lhe a energia, o sono, as letras, mais não conseguiu lhe retirar o sonho e a esperança, lutou, venceu, incinerou pela primeira vez o mapa: o mapa da fome! Os fariseus o aprisionou,humilhou, ceifou vida e muitos caras tentaram desumaniza-lo. Queimaram tudo ao eu redor e destruíram tudo ao nosso. Mais sobrou-nos a coragem, a esperança e a nossa capacidade de se indignar e lutar. Um poema de Manuel Bandeira assentou-me a memória e aflorou agora: O Bicho. "Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (BANDEIRA, 1947). No Brasil já são alguns milhões passando fome. E cerca de 50 milhões de desempregados (incluindo os desalentados). Recife 18.09.2020 *Sociólogo, Especialista em Gestão Ambiental.

ÁGUA PRA GENTE

*por William Ferreira A água passa nos canos, mas não é para os canos. É para as pessoas, para os animais, para as lavouras, até mesmo...