29 de novembro de 2009

Quando a garra das sertanejas vale um prêmio

Rede de comércio solidário desenvolvida pela Casa da Mulher do Nordeste, em Afogados da Ingazeira, recebeu prêmio nacional de Tecnologia Social
Jornal do Commercio (PE)
Cláudia Vasconcelos
29/11/2009

BRASÍLIA – Quatro anos atrás, um grupo de sertanejas começava uma revolução em Afogados da Ingazeira, a 386 quilômetros do Recife. Desarticuladas, produtoras rurais e artesãs não ganhavam mais que R$ 50 por mês, dependendo economicamente dos maridos. De lá para cá, criaram uma rede de comercialização solidária que chegou a multiplicar a renda por seis e garantiu-lhes algo muito maior: a cidadania. Pela iniciativa, a ONG Casa da Mulher do Nordeste tornou-se uma das oito vencedoras do Prêmio Fundação do Banco do Brasil de Tecnologia Social 2009, entregue terça-feira.

Hoje, as 450 integrantes da rede organizam-se em 40 grupos produtivos, fabricando desde doces e sucos a peças de crochê e de decoração. Mantêm até loja em Triunfo, município turístico do Sertão. Para apoiar o negócio, criaram um fundo rotativo, que serve como banco que empresta sem juros. Com os R$ 50 mil do prêmio, os investimentos têm tudo para se expandir.

“Essas mulheres lutam incessantemente acreditando que é possível mudar este País. Sociedade e poder público têm que apostar em ideias assim. Mostramos que as mulheres têm, sim, direitos econômicos”, disse a coordenadora do Programa Mulher e Vida Rural da ONG, Marli Romão, que representou as companheiras na capital federal.

As participantes da Rede de Mulheres pela Comercialização Solidária aprenderam a superar burocracias para melhorar a produção. A cada seis meses, têm aulas sobre produção agroecológica, planejamento, acesso a crédito. Mas a capacitação vai além do aspecto econômico.

Antes do projeto, o índice de analfabetismo chegava a 37%. Depois, muitas animaram-se a voltar aos estudos. “O fato de se sentirem protagonistas da própria vida mudou a autoestima delas. Algumas se achavam incapazes por não saber ler, outras não percebiam o quanto a violência doméstica as afetava. Agora, estão fortalecidas”, comemorou a agente de geração de renda Francineide de Melo, que esteve na entrega do prêmio.

Com o reconhecimento, a tecnologia de Afogados da Ingazeira passa a integrar o banco de dados da Fundação Banco do Brasil (FBB). São 550 iniciativas cadastradas, que podem ser conhecidas em www.fundacaobancodobrasil.com.br. A intenção é atrair apoio para multiplicar as ações.

Este ano, a instituição certificou 114, nas áreas de educação, renda, meio ambiente, saúde, água, alimentação, habitação e energia. Segundo o gerente de tecnologias sociais da FBB, Jefferson de Oliveira, haverá recadastramento em 2010. “Assim, saberemos se as tecnologias ainda funcionam ou se sofreram adaptações.” O prêmio é concedido desde 2001, a cada dois anos, e precisa ser investido no projeto ganhador.

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